quinta-feira, setembro 06, 2012

Mónica Mendes - a heroína nacional


«Foi um sentimento único, sensacional, indescritível, inexplicável, fenomenal e histórico» - Mónica Mendes


Mónica Mendes é jogadora da Selecção Nacional de Futebol Feminino e foi a autora do golo à Bélgica que apurou Portugal para a primeira fase final de um Campeonato da Europa de Futebol Feminino que se realizou em Julho, na Turquia. 
Em entrevista exclusiva, dá-nos a conhecer alguns pormenores da sua carreira, o que sentiu no momento em que viu a bola entrar no jogo com a Bélgica e as emoções que viveu ao representar Portugal num Campeonato da Europa.



Fábio Aguiar: Como nasceu a tua paixão pelo futebol?
Mónica Mendes: Desde pequenina sempre acompanhei o meu pai para tudo. Ele foi guarda-redes durante 20 anos e agora ensina futebol em escolas e colégios como modalidade extracurricular. Eu como acompanhava o meu pai para todo o lado, comecei a ir para as aulas dele desde os meus 3 anos. Foi aí que tudo começou.

FA: Quando decidiste envergar por este caminho, como foi a reacção da tua família?
MM: A minha família é toda ligada ao desporto, portanto respira-se desporto na minha casa. Eu sempre fiz muito desporto e cheguei mesmo a competir por dois desportos ao mesmo tempo desde muito cedo até ao ano passado. A reação da minha família foi normal, apoiaram-me desde início, porque eu no fundo estou a fazer algo que gosto, que me faz feliz e que me realiza como pessoa e como atleta.

FA:Depois de duas épocas ao serviço do 1º Dezembro, como surgiu a oportunidade de representar os Scorpions (UTB - University of Texas at Brownsville)?
MM: Apesar de eu fazer muito desporto desde pequenina, como referi anteriormente, nunca meti a escola de lado e apesar do pouco tempo que tinha para estudar, sempre dei o meu máximo para obter o melhor rendimento escolar. Esta oportunidade surgiu porque o treinador da minha Universidade estava a precisar de jogadoras e entrou em contacto comigo, através da Profª Mónica Jorge, e sendo eu uma atleta internacional, uma vez que jogava pela Seleção Nacional Portuguesa Sub-19, e ao mesmo tempo uma estudante que estava acabar o secundário, com boas notas, ofereceram-me uma bolsa de estudo de atleta-estudante, o que me proporciona conciliar os meus estudos e jogar futebol num nível superior em relação a Portugal, pois as condições que oferecem são diferentes. 

FA: Como descreves esses momentos vividos nos EUA?
MM: Uma aventura muito positiva, onde estou aprender bastante tanto na parte pessoal como na parte futebolística.

FA: Estás a iniciar outra nova aventura nos EUA. Que expectativas tens para esta nova etapa no DC United?
MM: Quanto ao DC United Women é uma competição aparte, ou seja, é um clube que está inserido no campeonato semi- professional (W-League) e sub-20 (W- League USL) dos EUA durante três meses (Maio, Junho e Julho). Como tal, esta foi a minha primeira experiência num campeonato deste nível e a treinar com jogadoras de top mundial, visto que uma das minhas colegas pertence à Seleção principal dos  EUA (esteve agora a disputar os Jogos Olímpicos onde se sagrou Campeã Olímpica) entre outras que são presença assídua nos diversos escalões. Apesar de treinar com as duas equipas acabei por ser titular e jogar todos os jogos, em que estive presente, pelas sub-20. Fizemos um grande campeonato visto que ganhámos a conferência e apurá-mo-nos para as finais dos EUA onde em quatro dias tivemos quatro jogos de grande intensidade debaixo de uma temperatura que quase estorricava. Conseguimos chegar à final e sagrá-mo-nos Vice Campeãs dos EUA em Sub-20, o que é algo muito difícil visto que há centenas de equipas e estamos a falar de um país com 52 estados (só para termos noção do quanto difícil é chegar à fase final). Resumindo, estes três meses foram simplesmente memoráveis e não podia pedir mais…fomos fantásticas!


FA: Representar a Selecção Nacional sempre foi o teu grande sonho?
MM: Sim! Representar a Seleção Nacional sempre foi o meu grande sonho. Eu sou uma pessoa que amo literalmente o meu País. Desde sempre fui uma pessoa muito patriota e nacionalista e por isso ter a oportunidade de representar a Seleção Nacional foi algo que sempre ambicionei para a minha vida desportiva.

 FF: Qual a tua primeira internacionalização?
 MM: A minha primeira chamada à Seleção foi em Agosto de 2008. No entanto, não tinha idade para participar no 1º torneiro de apuramento para o Campeonato da Europa e por isso a minha primeira internacionalização foi no dia 7 de Abril de 2009 frente à Bélgica nos jogos de preparação para o 2º mini torneio de apuramento para o Campeonato da Europa 2009.

FA: O golo marcado à Bélgica que apurou Portugal para o Europeu Feminino de Sub-19 foi, certamente, um momento marcante na tua carreira. O que sentiste nos momentos seguintes a esse grande feito?
MM: Este foi sem dúvida um dos momentos mais marcantes na minha ainda jovem carreira desportiva e será para sempre um momento de pura felicidade quando se falar da história do futebol feminino português. Considero um golo de equipa e não individual e por isso o que senti foi euforia total. Desde que marquei o golo até voltar para os EUA (quatro dias depois), senti algo que nunca tinha sentido… não conseguia respirar bem e chorava de tremenda euforia, arrepiava-me ao ler as notícias, não conseguia ver fotos ou vídeos porque desatava a chorar de enorme felicidade e o meu coração batia como nunca! Foi um sentimento único, sensacional, indescritível, inexplicável, fenomenal e histórico. Foi um feito que jamais esqueceremos e não há palavras para descrever o que aconteceu naquele dia na Figueira da Foz!


FA: Representar o seu país num Campeonato da Europa é o sonho de qualquer jogadora ou qualquer atleta. Que emoções tiveste ao ouvir o hino nacional no primeiro jogo na Turquia?
MM: Este dia não foi só o primeiro jogo do Europeu, mas sim o primeiro jogo de uma Seleção Portuguesa Feminina numa fase final de um Campeonato da Europa e nós estávamos lá. Já por si era um momento especial e marcante nas nossas vidas e quando ouvi o hino foi mais um momento de tremenda alegria onde não consegui conter a minha emoção. Por mais que tente dizer o que senti naquele momento, não há palavras para descrever.

 FA: Qual o melhor momento da tua carreira?
MM: O melhor momento da minha carreira como futebolista, até ao momento, foi sem dúvida termos conseguido apurar-nos e ter representado Portugal ao mais alto nível numa fase final do Campeonato da Europa 2012 na Turquia.


FA: Em Portugal, o futebol feminino ainda passa um pouco despercebido e não há muita divulgação por parte dos media. Na tua opinião, o que é necessário fazer para alterar este panorama?
MM: Eu acho que primeiro do que tudo temos que tentar mudar a mentalidade da nossa sociedade, mas como é lógico é um longo processo e que ainda vai demorar. No entanto, este factor está relativamente melhor em comparação à cinco ou dez anos atrás. Penso que o facto de termos feito um grande Europeu e de termos chegado à semi-final (contra todos os que diziam que íamos levar cabazadas e voltar logo a dia 9 para casa) e o jogo ter passado na televisão deu outra imagem e as pessoas (mesmo aquelas que nunca nos apoiavam ou nem sequer sabiam da nossa existência) conseguiram apreciar e valorizar o nosso talento gostando da maneira como jogamos futebol. Penso que ganhámos muito mais adeptos no futebol feminino português! Também acho que a Federação Portuguesa de Futebol está a fazer um óptimo trabalho no que toca a promoção do Futebol Feminino Português. Em termos de media, o jornal “a Bola” deu uma enorme ajuda visto que já temos direito à “nossa” página no jornal o que ajuda ainda mais na divulgação. Se tivesse que ter uma ideia para alterar este panorama imediatamente tentaria apostar na televisão porque a partir do momento que há televisão, vão aparecer patrocinadores originando maior movimento de outros clubes (e quem sabe os grandes de Portugal), suportando mais os que existem, sendo também uma forma de chegar mais perto da nossa sociedade e ajudar na maneira como esta olha para o futebol feminino em Portugal.

FA: Neste momento, qual é o teu maior sonho?
MM: O meu maior sonho é continuar o meu caminho sempre com a paixão que tenho pelo futebol e com a alegria de sempre. Tenho objetivos na minha vida e é por eles que trabalho e tento superar-me diariamente. Acima de tudo, sonho em ser feliz a fazer o que mais gosto! Se assim for muito outros sonhos poderão aparecer num futuro próximo.

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